Após acordar às 6:00, meia hora depois já estava a caminhar. A Viviane continuava com medo de um confronto directo com o Luís. Saiu primeiro do que eu do albergue, pois o Luís já estava quase despachado para sair. Eu não queria modificar nada no meu caminho devido a ele. Após sair do albergue encontrei a Viviane nas ruas de Nájera, a voltar para trás, perdida na direcção certa do Camino. Ainda fomos comer algo num café que já se encontrava aberto. Em quase todos os pueblos existiam sempre cafés que abriam mais cedo de modo a fazerem negócio com os peregrinos. Era bom para ambos os lados.
Nunca tinha começado a caminhar tão cedo, mas já me sentia confortável por o fazer. Atravessámos um pequeno bosque à saída de Nájera, completamente de noite, sem lanternas. A maioria dos outros peregrinos que começavam a caminhar de noite, tinham preferência por uma pequena lanterna de alta potência, presa à testa, para iluminar o caminho. A Viviane tinha enviado uma lanterna dessas para Santiago de Compostela, juntamente com alguns 5kg de outras pequenas coisas, quando constatou realmente o peso excessivo da sua mochila. A minha lanterna iluminava apenas a noite nos albergues e tirava dúvidas relativamente a possíveis marcas no caminho nas madrugadas escuras.
O sol nasceu mostrando um dia mais escuro, ameaçado por nuvens carregadas a sul. Felizmente estavam a afastar-se. Chegámos rapidamente a Azofra, onde fizemos uma pausa num café. O amontoado habitual de peregrinos nos cafés e bares ao longo do Camino. Nenhum sinal do Luís. Por vezes a Viviane olhava para trás e dizia-me "acho que o Luís vem lá atrás!". Epá... mesmo sem querer, quase que me gelava o sangue. Mas nesse dia, felizmente, nunca o chegámos a encontrar. Tínhamos saído mesmo cedo, e não fizemos muitas pausas. De facto, essa etapa do caminho foi um pouco monótona. Apenas dois pueblos entre Nájera e Santo Domingo de la Calzada. Muitas searas e algumas vinhas.
Antes de chegarmos a Cirueña parámos numa fonte para comer algo. Junto à fonte existiam umas espreguiçadeiras de cimento, dando para se deitar, com uma caixa de pedras do rio junto aos pés, para quem quisesse massajar os pés. Decidimos não as experimentar. Seria muito mais difícil seguir caminho depois disso. O descanso total era apenas no final da etapa.
Cirueña foi uma desilusão. Um enorme complexo turístico com um campo de golfe às portas e uma aldeia muito pobre por trás.
Seguimos para Santo Domingo de la Calzada. Após subir um monte, consegue-se avistar a cidade ao longe. Comentámos na altura que já tínhamos aprendido que até chegar ao albergue, ainda iria faltar muito. Até gozávamos com a ideia do albergue ser do outro lado da cidade… quase sempre o era.
Lembrei-me que a Li me tinha aconselhado naquele dia a sacrificar-me por mais uns 7 quilómetros e ficar em Grañón. A Viviane também tinha uma folha com 30 conselhos sobre o Camino, e um deles era ficar em Grañon. Mas a Viviane já estava mais de rastos do que a caminhar. Continuava a caminhar com sandálias e não havia melhoras nos seus pés. Nem sequer lhe sugeri andar mais aquele bocado até Grañon.
Chegámos à parte histórica da cidade e encontrámos um albergue. Pelo meu guia sabia que haviam dois albergues e o outro parecia-me o indicado. Sempre que o meu guia mencionava albergues de “gran tradición” era de seguir para esse albergue.
Decidi procurar pelo segundo albergue "Casa del Santo". Não tivemos que procurar muito, pois encontrava-se logo um pouco depois do primeiro. Não nos arrependemos nem por um momento com a escolha. O albergue era fenomenal! Tivemos uma recepção pelos hospitaleiros numa sala com cadeiras confortáveis, em que era inevitável largar o tradicional e sonoro “ahhhhhh” ao sentar. Possuía um jardim relvado nas traseiras com uma mesa de pedra para refeições. O quarto situava-se num sótão com enormes traves de madeira, com camas individuais, muito acolhedor. Tinha uma pequena cozinha com sala logo após a porta do quarto, mas o albergue também possuía uma cozinha e sala de jantar enorme num edifício após o pátio.
Junto ao pátio também existia um galinheiro. Não era um galinheiro qualquer, mas sim o que continha os galos e galinhas de substituição para os que estavam na catedral. Não tenho contado e não vou contar as histórias e lendas do Camino neste blog. Seria um trabalho imenso. Santo Domingo de la Calzada tem uma lenda sobre a "galinha que cantou depois de assada". E é tradição, dentro da catedral, num galinheiro, manterem sempre um galo e uma galinha vivos. Diz a tradição que é sinal de muito boa sorte o galo cantar quando entramos. À noite ainda conseguimos entrar na catedral por breves momentos antes de fechar e ver o galo e a galinha.
Junto ao pátio também existia um galinheiro. Não era um galinheiro qualquer, mas sim o que continha os galos e galinhas de substituição para os que estavam na catedral. Não tenho contado e não vou contar as histórias e lendas do Camino neste blog. Seria um trabalho imenso. Santo Domingo de la Calzada tem uma lenda sobre a "galinha que cantou depois de assada". E é tradição, dentro da catedral, num galinheiro, manterem sempre um galo e uma galinha vivos. Diz a tradição que é sinal de muito boa sorte o galo cantar quando entramos. À noite ainda conseguimos entrar na catedral por breves momentos antes de fechar e ver o galo e a galinha.
Durante o dia todo não nos encontrámos com o Luís. Tinha ficado no outro albergue. Na quantidade enorme de peregrinos que se encontrava diáriamente, não estava a encontrar muito espaço para se formarem grupos de várias nacionalidades. Isso iria mudar mais para a frente, mas até à data ainda não tinha encontrado nenhum desses grupos. Os espanhóis juntavam-se todos em enormes grupos. O mesmo faziam os de língua alemã, francesa e italiana. São os predominantes. Outro grupo bastante numeroso é o dos solitários. São bastantes. São de várias nacionalidades, mas querem sempre caminhar sós. Por vezes juntam-se por pouco tempo a outros. Eu e a Viviane acabámos por formar um pequeno grupo de língua Portuguesa. Em grupos de uma só língua, torna-se muito difícil incluir mais pessoas. E torna-se também quase que uma responsabilidade representar o seu país, pois tendem a ser julgados dessa forma. Os italianos cometeram um erro nessa noite. Ficaram mal vistos por todos a partir daí. Quebraram uma das regras sagradas do Camino. Eram um grupo relativamente grande de 10 pessoas. Deitaram-se depois das 22:00, com as luzes já apagadas em que alguns peregrinos já descansavam desde as 20:00. Estiveram no quarto a conversar e a rirem-se até depois das 22:30. Acordaram o quarto inteiro e não deixaram ninguém dormir. Não tiveram qualquer consideração. Quebraram a regra do descanso dos peregrinos. Não foi por mim, pois nem tinha sono, e na altura nem compreendia ainda bem a necessidade que poderia surgir de descansar à noite no Camino. Era uma regra sagrada que ninguém violava.
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