domingo, 29 de julho de 2007

Rio Lizandro

Ontem fiz a minha primeira caminhada com a Papa-Léguas:
http://www.papa-leguas.com

Aproveitei e meti a teste vários factores para o Caminho.

O percurso em si, não é dos mais difíceis:

Duração................. 5 horas
Nível de Dificuldade.... Fácil
Distância............... 11Km

Altitude Máxima......... 68m
Desníveis acumulados.... 130m

Numero de subidas....... 1

Tipo de Terreno......... Terra batida e alcatrão


Tracei no Google Earth o percurso efectuado:











Parece muito pouco quando comparado com as etapas do Camino. Mas, num verão com pouco calor, ontem o tempo decidiu aquecer, e a certa altura quase que me fez desejar um pouco de chuva em vez de tanto calor. Felizmente na maioria dos locais sentia-se uma brisa leve. Afinal de contas, é a zona da Ericeira, terra do vento! Mas mesmo assim, torrei.

O percurso é variado, muito verde, por campos totalmente cultivados, com uma paisagem em que se vê muito pouca estrada, atravessando apenas dois curtos troços de alcatrão, e terminando na zona ao pé da praia.

Inicialmente, seguimos o percurso do rio, sempre com vegetação alta a acompanhar-nos, por vezes, passando por túneis de canas e arbustos que quase escondem o caminho.


Num ponto, temos que atravessar o rio, que nesta altura tem um caudal bem baixo, o que nos obriga a testar a verdadeira impermeabilidade das botas. Ò para a Ana do nosso grupo a ver se as delas aguentam :)


O percurso faz-se por campos totalmente cultivados, em que por vezes temos que ter cuidado para não tropeçarmos em nenhuma abóbora! Durante toda esta fase do percurso, apenas encontrámos três agricultores e uma pessoa a fazer o percurso de BTT.
















































































A junção da zona agrícola tipicamente saloia com a zona de praia faz-se por um curto troço de estrada em que teremos que atravessar uma ponte e passar por umas casas da população local, em que se viam nas casas as portas da sala completamente abertas, deixando entrar por toda a casa um relaxante cheiro a eucalipto. Que inveja!


A chegada à foz do Lizandro (ou Lisandro), que descreve um "S".


Das imensas vezes que já estive na praia do Lizandro, sempre olhei para o outro lado, para as escarpas, e sempre desejei dar por ali uma caminhada, pois deveria ser espectacular. E é!


O troço que liga a praia da Foz do Lizandro à praia de São Julião é todo em rocha, à beira mar.


Quase a chegar ao destino. O Miguel, o nosso guia, sempre ávido por contar histórias que já lhe sucederam e as histórias e lendas locais ao longo do percurso. Aqui, a contar a lenda de S. Julião.


Ainda não digeri bem os resultados do teste. Fui completamente equipado para a caminhada como se fosse para o Caminho. Fiz a mochila, pesei-a, levei a roupa do caminho, chapéu, tudo.

As coisas começaram a correr para o torto na noite anterior, quando fiz a mochila pela primeira vez. Tal como suspeitava, 40 litros é muito pouco! As sandálias tiveram que ficar de fora, levando umas havaianas em vez delas. Isso deixou-me muito triste. Mais ainda, quando ao conversar com o Miguel, o guia da caminhada, ele me disse que se encontrasse percursos de alcatrão no Caminho, para usar esse tipo de sandálias e nunca as botas. Bem... mas ainda há muitos melhoramentos a fazer na mochila. E alguns erros cometidos também, como levar o saco de cama super-leve na parte de baixo e não em cima.

Outro problema que tive foi o da garrafa de água. Ok... coube tudo na mochila, mas e os snacks e uma garrafa de água de litro e meio? Tive que tirar algumas coisas para caber a garrafa. Acho que vou ter mesmo que comprar um cantil. Até porque é bastante chato estar sempre a tirar e abrir a mochila sempre que se quer beber água.

Durante a caminhada, com o sol e calor que estavam, usar o chapéu protege realmente, mas antes de ir para o Caminho, acho que vou à máquina com pente 2, ou perto... É um calor!! Definitivamente vou com o cabelo muito curtinho.

A mochila com o sistema "ventilight" que não deixa encostar às costas, é realmente um grande ponto positivo. A única coisa que se sente na mochila é mesmo o seu peso, e apenas a longo prazo, como no dia seguinte, como agora! Dói-me os ombros, pernas e ombros. Ah e também me dói os ombros. De resto, não tenho absolutamente queixa nenhuma da mochila. Não posso levar a mochila mais pesada. Depois digo o peso final da mochila, mas não está acima dos 7Kg. Já disse que me doíam os ombros?

As botas comportaram-se lindamente. Usei apenas as meias de caminhada da Decathlon. Perguntei ao guia sobre o conselho das meias finas e meias grossas por cima, e ele disse-me que para além de ser quente demais, seria apenas aconselhado para meias "normais". Para meias de caminhada, ao escolher umas com o indicador de calor o menor possível e eliminação de humidade o maior possível, não se teria muitos problemas, desde que o pé se adapte à bota e não ande por lá a boiar. Hoje olhei para os meus pés, e não sei se é para ficar um pouco preocupado. A bota direita sempre custou mais a adaptar desde o início, e a única lesão é mesmo uma feridazita no tornozelo direito, da parte de dentro, devido à fricção. É uma coisa minúscula, mas numa caminhada prologada de 30 dias...

O Miguel usava um bastão telescópico. É bastante prático, pois quando não se pretende usá-lo, pendura-se na mochila e ficamos com as mãos livres. Mas ainda não desisti de ir com um de madeira!

A caminhada foi uma experiência positiva em todos os aspectos, e espero fazer muitas mais. Éramos um grupo pequeno, de seis pessoas, por isso tivemos oportunidade de conviver mais pessoalmente uns com os outros, e no final ainda ficámos um pouco a conversar e a beber umas jecas na esplanada do "Gota d'Alcool" na praia de S. Julião. Foi muito bom conhecer pessoas diferentes com diferentes experiências e que partilham o mesmo gosto por caminhadas, viagens e até fotografia. Deram-me tantas dicas para futuras viagens... :)

No final, para estragar a queima das calorias, ainda dei uma volta pela Ericeira, com paragem obrigatória no Galiota para uma tosta de galinha com alho. Para quem conhece o Galiota, não se assuste, foi MEIA tosta :)

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Equipamento II

Mais umas aquisições de equipamento. Finalmente estou quase a chegar à parte do vestuário! Quase...

Capa para a Chuva
Marca: Quechua Forclaz 1300
Preço: 17.95€
Local: Decathlon


Características:
Peso: 330 g
Material: 100% polyester revestido
Fecho de correr todo o comprimento, fecho duplo, punhos com fecho de banda auto-aderente. Concebido para proteger da chuva o praticante de caminhada e a sua mochila.

Não sei porquê, mas até há pouco tempo atrás, pensava que não iria apanhar chuva nenhuma no Caminho. Até que pensei realmente um pouco sobre o assunto. Vocês já viram o verão que estamos a ter?! Se chove em Julho, porque não irá chover em Setembro? Em Inglaterra andam com cheias e na Hungria morrem 500 pessoas numa semana devido ao calor. Parece que o planeta já iniciou as fases de teste para a expulsão definitiva dos parasitas que nós somos. Vai ser mesmo impossível de prever o tempo para Setembro. Mais vale ir protegido.

Podia ter comprado um poncho, muito mais barato, pois ficava por volta de 5€. No entanto, depois de o ter experimentado, vi que se o factor vento entrasse em cena, a coisa podia ficar muito complicada. Para além de que para uma chuvada média, entrava água por todos os lados, pois o poncho prende de lado apenas com dois botões, e as mangas são bem curtas. Enfim... é um poncho!

Esta capa pareceu-me mais robusta. E nem é muito pesada... espero. Não sei porquê, vem-me sempre à cabeça o "grão a grão...".


Meias
Marca: Quechua Forclaz 100
Preço: 3 x 6.90€
Local: Decathlon


Ah pois é! As meias. Em tudo o que li, aconselham sempre a levar três pares de meias grossas e três pares de meias finas, todas sem costuras, e calçar as meias finas por baixo das meias grossas. Mas já li relatos de quem leve apenas as grossas. Ainda não me decidi. Pelo sim, pelo não, comprei três pares de meias grossas próprias para caminhada. Nem sabia que havia disto! Como o Markl diz, em que concordo totalmente, as meias e boxers crescem por geração espontânea na gaveta delas!

Mas pensado um pouco, se investimos tanto nas botas, porque iríamos estragar tudo nas meias? Estas são todas xpto, com secções de diferente elasticidade e grossura. Segundo a Decathlon:

Concebido para grandes caminhadas, de um a vários dias, em todo o terreno, com desnível acentuado.

5/5 Eliminação de humidade
5/5 Rapidez de secagem
2/5 Calor
4/5 Resistência

Amanhã faço o test-drive :)


USB Pen Drive
Marca: Silicon Power Ultima II 2GB
Preço: 14.90€
Local: Vobis


Penso que com isto resolvo o problema de armazenamento de fotos. Eu sou uma besta a tirar fotos. Se num passeio por uma zona onde já passei imensas vezes, tiro 100 fotos, imagino como será no Caminho. Ainda pensei em enviar as fotos por e-mail ou FTP quando atingisse o limite do cartão de 512MB. Mas só de pensar nas velocidades de upload, desisti logo da ideia. Então... uma Pen Drive! É super-leve, minúscula, e com uma capacidade de 2GB mais os 512MB do cartão da máquina, acho que deve dar. Terá que dar!

Não comprei um cartao xD de capacidade igual porque acho que a minha só lê cartões até 1GB, e mesmo assim, acho que têm que ser cartões Olympus. E o preço de um xD de 2GB... ui! Mas poupava-me as idas aos PC's.

Quanto à questão das pilhas para a máquina, de modo a não ir carregado com o carregador, irei comprando pelo caminho pilhas normais, não recarregáveis.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Guia do Camino

Chegou finalmente o meu guia do Caminho!

"El Camino de Santiago: Guía práctica del peregrino"

Arranjar isto foi uma verdadeira aventura. Depois de ler alguns artigos sobre os melhores guias para o Caminho, consegui reduzir a escolha a dois livros:

- "El Camino de Santiago a pie", El País Aguilar
- "El Camino de Santiago: Guía práctica del peregrino", Everest S.A.

Concentrei-me então na busca do primeiro, El Camino de Santiago a pie. Corri várias livrarias em Lisboa e arredores. Não o encontrei em lado nenhum! Encontrei bastantes livros sobre Santiago de Compostela, e até mesmo livros sobre o Caminho, mas nenhum deles era um guia. Deixei passar um tempo, e na semana passada voltei à carga. Desta vez, se não encontrasse um guia, iria encomendá-lo. Fui apenas a três livrarias.

A primeira foi a FNAC, onde me disseram que iria demorar entre um mês a mês e meio... sem garantias. Não dava. A segunda foi a Bertrand. Disseram-me que não mandavam vir livros de fora, e o único que tinham era da Everest, mas como estava esgotado na "fonte", não o podiam pedir. Estes não queriam mesmo vender. Fui à terceira e última, livraria Bulhosa, os quais, muito simpáticos ficaram com o meu contacto para pedir um "orçamento", mas avisando-me logo que provavelmente iria demorar entre um a dois meses. Até me disseram "parece que os livros de Espanha vêm a pé". Depois repararam no título do livro que encomendava e ficou no ar um "errr..." :) Mas, ao fim de dois dias ligaram-me e disseram-me que iria demorar dois meses! Dois meses!

Foi então que desisti, fui à loja online da Everest Espanhola, encomendei-o na quinta-feira passada, na segunda-feira foi expedido, e hoje, quarta-feira, chegou por UPS Express. Quatro dias úteis! A diferença paga-se nos 11.90€ de portes. Mas ainda me ofereceram um "regalo" à escolha. O guia em si custa 24.95€.

Já me tinham avisado que, embora fosse um excelente guia, tinha um pequeno problema, o peso. Fora essa a razão pela qual incidi as minhas buscas no outro guia. Realmente é um pouco pesado para quem anda a construir a mochila grama a grama, e a ler que alguns até serram a escova de dentes a meio para poupar no peso do cabo! Mas tem um extra valioso. O guia chega empacotado numa caixa de plástico, em que para além do guia em si, trás à parte um saco de plástico transparente, com fecho de velcro e um fio elástico para pendurar ao pescoço, com os mapas de todas as etapas do percurso, em que na parte de trás contém toda a informação condensada. Pesa 180 gramas. Muito prático! Ainda vou decidir se apenas levo os mapas com o resumo, ou também o guia.

sábado, 21 de julho de 2007

O Caminho Francês

Existem vários Caminhos de Santiago. Formados por peregrinos desde o século IX, actualmente existem os principais Caminhos históricos:

- Caminho Francês
- Caminho Aragonês
- Caminho do Norte
- Caminho Inglês
- Caminho Primitivo
- Caminho Português
- Vía de la Plata
- Rota Marítimo fluvial (Caminho da Ria de Arousa)

Catalogar os vários Caminhos é apenas uma forma de identificar os principais itinerários. O Caminho começa à porta de casa.

Não se traçou todos os percursos feitos ao longo de 12 séculos, pelos milhões de peregrinos que já caminharam até Santiago. As rotas de maior afluência começaram a ficar no mapa. Algumas mais marcadas que outras. E aquelas que ao longo do percurso se vão encontrando com outras e juntando um maior número de rotas ficaram marcadas não só no mapa, mas também na cultura Europeia. É o caso do Caminho Francês.

Apercebi-me de que um Caminho não era algo tão linear ao ver o mapa dos vários Caminhos Portugueses.

Contudo, nos últimos anos, várias entidades e associações começaram a delinear apenas um. O "Caminho Português". Coisa que já foi feita em todos os restantes Caminhos.






No entanto, também não deixa de ser surpreendente ver os Caminhos traçados no mapa da Credencial do Peregrino.


Se tivermos em conta que existem variações de percurso em cada Caminho, as possibilidades de rota são imensas.

Para percorrer um Caminho, não se tem que necessáriamente iniciá-lo desde o seu início. E qual o início do Caminho Francês? O Codex Calixtinus, escrito no século XII, descreve as quatro principais rotas em França:

- Via Turonense, partindo de Paris;
- Via Lemovicense, partindo de Vezelay;
- Via Podense, partindo de Le Puy, unindo-se em Roncesvalles com as primeiras;
- Via Tolosana, que cruza os Pirinéus por Somport, seguindo por Jaca, e une-se em Puente la Reina a todas as outras que vêm de Roncesvalles.

O Caminho que parte de Puente la Reina até Santiago de Compostela é então o chamada Caminho Francês. São 750 km que atravessam Aragão, Navarra, Rioja, Castela e a Galiza.

No entanto, hoje em dia, diz-se que se faz o Caminho Francês, quando se parte de algum local que intercepte a rota de todos os caminhos referidos. Portanto, eu, que irei partir de Saint Jean Pied-de-Port, no lado Francês dos Pirinéus, irei percorrer efectivamente o Caminho Francês.

O Caminho Francês foi declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu em 1987, e Património da Humanidade em Espanha (1993) e em França (1998). O caminho tem uma mística enorme. Foram vários os que já o percorreram e deixaram o seu nome na história. Pessoas como Carlos Magno, El Cid, São Francisco de Assis, Fernão de Aragão e Isabel de Castela.

No entanto, falta referir um outro Caminho, que a cada dia que passa, torna-se mais evidente que o irei percorrer depois de chegar a Santiago. Um Caminho que me irá levar até ao "fin de la Tierra" de acordo com os mapas dos nossos antepassados medievais. Mas disso, irei falar numa outra altura.

Porquê fazer o Caminho?


Curioso, mas é extremamente raro surgir esta pergunta quando dizemos a alguém que o iremos fazer. A maioria das pessoas assume imediatamente que é por algum motivo religioso, e com algo muito de pessoal por trás. Talvez consequência de termos Fátima no nosso país, e estarmos habituados a promessas de fé. No entanto, os que me conhecem melhor, ao fim de alguns segundos atinge-os e dizem-me "espera lá, mas tu não és religioso... pois não?". Ao que eu respondo... "Não".

Então, porquê fazer o Caminho? Existem um leque de motivos que levam as mais variadas pessoas a fazer o Caminho. Muitas delas devido à religião, sim. Outros devido à mística do Caminho. Alguns apenas pelo desporto, por razões artísticas, por motivos culturais, por passeio, pela beleza do Caminho, pela aventura, por algo único na vida.

Cada um tem o seu motivo, e por vezes, esse motivo só lhe é revelado durante o Caminho, ou até mesmo no final dele. Parece que existe uma componente comum a quem percorre o Caminho, que é o de não saberem bem o verdadeiro motivo porque o querem fazer, sabendo apenas que o querem fazer... e muito!

Vejamos, o Caminho não é como uma ida à praia, ou ir acampar de fim-de-semana. Não. É algo que requer preparação, dinheiro e bastante disponibilidade. Na grande maioria das vezes, para termos essas três coisas, terá que se fazer alguns sacrifícios. Eu fiz alguns sacrifícios, e até mesmo riscos, e estou disposto a fazer ainda mais. Para quê fazer isso? A resposta, igual para a pergunta inicial, é simples. Porque quero! Porque se não o fizer, sentirei um vazio e uma pobreza de espírito enorme. Como algo incompleto na minha vida, que deveria ter feito. A única coisa que está entre mim e o Caminho é o tempo. Irei fazê-lo porque quero. Porque preciso.

E com a resposta, levanta-se uma série de outras questões. Talvez haja sempre questões por baixo de questões, em camadas intermináveis. É claro que o verdadeiro motivo é conhecido, e quem aprende a questionar-se, sabe-o muito bem. O meu verdadeiro motivo é a ruptura. É querer colocar um marco nesse momento da vida que indique uma viragem para algo diferente, em que iremos fazer por tudo para que seja melhor. É querer controlar todas as forças exteriores, não conseguindo na realidade, mas descobrindo que nos podemos moldar segundo elas. É querer que a mudança seja uma coisa boa. De início, é como investir num espécie de seguro, em que depois transforma-se na solução, e sabe-se lá onde vai acabar.

Porquê fazer o Caminho a só? Irei sem ninguém. Mas sozinho? Duvido muito. É praticamente impossível estar sozinho no Caminho. Com tantas pessoas a fazer o Caminho, pelos mais variados motivos, mas com o objectivo em comum de chegar a Santiago de Compostela, nunca se está verdadeiramente a só no Caminho. Mas partirei só, porque quero ir apenas eu, quero deixar tudo o que me amarra no dia a dia, para trás.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Exercício, exercício e mais exercício

Quando me decidi a fazer o Caminho, decidi também que queria estar em forma para assim poder usufruir mais do que ele tinha para dar, deixando um pouco para segundo plano as consequências físicas de uma caminhada tão longa.

Logo na primeira semana quando comprei as botas, comecei todos os dias a dar longas caminhadas ao fim da tarde com os meus bitxos (ler: cães), de início mais para "amolecer" as botas do que para começar a fazer exercício, e por fim já só as fazia pelos bitxos, pois a felicidade deles era tanta naquelas caminhadas que adorava dar-lhes aquela prenda ao fim da tarde.

Mas não era o suficiente para me manter em forma, então decidi entrar para um ginásio. Cheguei a preencher os papéis da inscrição, mas o Multibanco do ginásio estava avariado, por isso fiquei de pagar na minha primeira ida. Então comecei a pensar... "bem... vou dar um dinheirão pela jóia de inscrição e por uma mensalidade... acho que vou fazer outra coisa mais útil ao dinheiro". Então, de modo a poupar dinheiro, gastei quatro vezes mais e comprei uma bicicleta de BTT, com todos os mimos a que tinha direito. Capacete, luvas, calções, t-shirts, kit de furos, kit de chaves, conta-quilómetros wireless, suporte e garrafa de água, bomba de ar. Haha!

Comecei a alternar os passeios dos bitxos com passeios de bicicleta. Faço principalmente percursos urbanos em Lisboa e na zona norte de Lisboa. E dá um gozo bestial. Sinto-me mesmo relaxado depois de uma volta de bicicleta.

No entanto, chegou o dia já esperado há muito. Talvez há tempo demais. E por motivos da vida e do destino, deixei de poder passear os cães tão regularmente, e as voltas de bicicleta estão resumidas praticamente ao fim de semana.

Para contrariar isto, uma vez que tenho total poder de decisão sobre este assunto, de modo a não ficar parado, inscrevi-me de vez no ginásio. Hoje foi o meu primeiro dia. E embora pensasse que já estava minimamente desenferrujado e pronto para o Caminho, aqui estou eu, a escrever estas linhas, totalmente partido! Ai. Ainda bem que fiz a inscrição. É puxado, mas vale a pena. Ainda tenho 45 dias para compensar minimamente o desleixo de um ano.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Preencher o desconhecido

É talvez o que define todo o processo de preparação para o Caminho quando não se conhece ninguém pessoalmente que já o tenha feito.

A principal fonte de informação é, inevitavelmente, a net. Ponto de partida: Google. Keywords: Caminho Santiago. E horas de leitura de informação esperam por nós. Os peregrinos Brasileiros são, sem dúvida alguma, a presença forte de língua portuguesa na net. De facto, tirando os Peregrinos do Caminho Português e alguns peregrinos de BTT, é extremamente raro encontrar relatos de alguém que tenha percorrido o caminho Francês que tenha partido de Portugal. Encontrei alguns. Falarei deles mais à frente.

O site que provavelmente condensa mais informação sobre o Caminho, é "O Portal Peregrino":
http://www.caminhodesantiago.com

O guia do "Peregrino a Pé" pelo quase, senão já lendário Walter Jorge ajudou-me imenso a seguir no caminho certo e a saber o que procurar. É claro que por vezes a questão de ser um guia para peregrinos partindo do Brasil, dificulta um pouco a busca de informação. Por exemplo, não ajuda em nada nas dicas de como chegar ao nosso ponto de partida. Também não nos indica como obter a Credencial do Peregrino em Portugal. Pormenores linguísticos como "moletom" foram ultrapassados com a ajuda da minha colega de trabalho brasileira, Jane. Hehe. Ainda tenho que lhe perguntar o que raio são chinelos "papete"...

Contudo, a informação é vasta e será mais do que suficiente para iniciar o Caminho. Mas... para picuinhas como eu, não o é!

A primeira grande dúvida que se colocou, foi como iria até ao ponto de partida. Decidi muito rapidamente que iria partir de Saint Jean Pied-de-Port. Por vários motivos. Por ser um ponto afastado o suficiente para o caminho não ser curto demais, nem longe demais. Por ser um local que pela descrição será o ideal para a partida. Por ser um local comum a muitas partidas. Por muitos outros pequenos motivos. A dúvida era, como chegar o mais rápido possível a Saint Jean Pied-de-Port, e de preferência, não gastando muito dinheiro no processo.

Pesquisei comboios e aviões. Encontrei uma companhia de aviação "low-cost" que tinha voos de Lisboa para Madrid a 45€, com perto de duas horas de voo. Como todos os peregrinos do Brasil aterravam em Madrid, as suas rotas para SJPP partiam inevitavelmente de lá, logo, as minhas buscas estavam-se a concentrar num primeiro percurso com escala em Madrid. Fiquei bastante satisfeito com a alternativa de avião, e quando estava prestes a fazer a reserva online, a minha então companheira de casa disse-me "mas... Barcelona não fica mais perto de para onde queres ir?". Fui consultar um mapa. E fiquei novamente confuso. Então, pesquisei no Google mais uma vez. "avião" "lisboa" "pied de port". E numa das primeiras posições, estava o "Pelos Caminhos de Santiago":
http://peloscaminhosdesantiago.blogspot.com

Um blog! Teria que ter alguma informação. E tem, muita mesmo! Mas não a que procurava na altura. Introduzi então uma mensagem a pedir ajuda à autora do Blog, a Li, a qual me respondeu com uma enorme simpatia. E curiosidade também. Ao mesmo tempo, coloquei uma questão num Grupo do Hi5 de nome "Caminho de Santiago", à qual o Luiz me respondeu com a confirmação da minha escolha. O Luiz está neste momento a percorrer a Via de la Plata.

Ficou então decidido. Seria uma viagem feita totalmente de comboio. Bem... o plano de cravar boleia à irmã até à estação do Oriente não o é. Mas... Sud-Express de Lisboa até Hendaye, depois um segundo combóio para Baiona, e daí um terceiro para Saint Jean Pied-de-Port, o destino final e o ponto de partida. Horas e horas de comboio! Ahhhh e nem um livro posso levar porque até enjoo se ler quatro vezes seguidas "wc" escrito numa porta. Talvez música...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

O Início e o Agora

O Início

Santiago de Compostela. O nome é-me familiar desde pequeno. Nunca lhe liguei ou prestei muita atenção quando o mencionavam. Pelo que quando li novamente o nome no "Diário de um Mago", dizia-me tanto como "Salamanca" ou "Barcelona". Fiquei curioso com o caminho. Falei sobre o caminho. Decidi-me a fazer o caminho com uma paixão tão grande como a que sentia pela pessoa que o iria fazer comigo, a minha agora ex-companheira. Mas tudo se dissipou. E ficou esquecido. Nunca acabei de ler o livro. Curioso. Até agora.

O Agora

Muito se poderia dizer sobre o início. Mas é o agora que me interessa. Talvez a meio do caminho, ou algures nele, volte novamente ao início, e quem sabe, ao verdadeiro fim. Talvez até o fim seja agora. Mas não o do caminho. O caminho é Agora.

Não sei como foi retomado. Por vezes pensava em fazê-lo. Em Maio deste ano, no trabalho, quando traçava no Google Earth o percurso de Lisboa a Barcelona para obter os quilómetros e o tempo de viagem de carro, olhei para a fronteira de França... o Caminho! Estava ali. Já não me recordava do ponto de partida. Então pesquisei. Saint Jean Pied-de-Port. Introduzi-o como ponto de origem, e como ponto de destino, Santiago de Compostela. Mais de 800km. Uma linha horizontal sinuosa e gloriosa formou-se no écran. Enviei um mail com um print screen para os meus colegas de trabalho:

"Qualquer dia faço isto a pé".

Só me lembro do "És doido!".

Nesse fim de semana, no domingo, numa caracolada na casa que ainda partilhava com a Sofia, junto com amigos, numa conversa sobre férias, saiu-me qualquer coisa como:

"Qualquer dia meto 30 dias de férias"

Mais tarde, nessa noite, já passava da 1 da manhã, na madrugada do dia 14 de Maio de 2007, ficou decidido. Após dar por mim novamente a pesquisar pela web de tudo o que iria necessitar para fazer o caminho, atingiu-me como um raio. Iria fazer o caminho! E não era num futuro próximo. Era já! O mais rápido possível. Durante essa semana acordava com uma euforia que iluminava todo o dia. E o processo de iniciação, curou-me de algo que andava desesperadamente há 4 anos a tentar livrar-me, sem qualquer sucesso. Mas, talvez mais tarde fale sobre esse assunto. Provavelmente não.

domingo, 15 de julho de 2007

Credencial del Peregrino


Sendo indispensável para o Caminho, teria que a obter de alguma forma. Após pesquisar pela web, vi no site www.caminhoportugues.org que a poderia adquirir numa associação em Portugal, em que até forneciam uma lista com seis associações existentes em terrirório Português.

Tentei primeiro a "Sociedade Portuguesa dos Amigos de Santiago", uma vez que era na Charneca da Caparica, aqui perto, já ali na margem sul. Enviei um e-mail do qual até hoje nunca obtive resposta. Possivelmente, a associação já não existe, ou o contacto que a página fornece está datado.

Tentei então a "Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago", um "pouco" mais longe, em Ponte de Lima, enviando novamente um e-mail a pedir informações de como obter a Credencial. Responderam-me prontamente no próprio dia, apenas me perguntando pelo meu nome, morada e quantidade desejada, de modo a enviar a credencial por correio, à cobrança. Nem perguntei o preço, respondi, o qual obtive logo a confirmação de que iria ser enviada por correio nesse mesmo dia. Uau! Foram mais do que eficientes, e tenho que agradecer a simpatia da Sra. Célia Capitolina, que foi o meu elo de contacto com a associação.

Dois dias depois, recebo em casa a credencial, à cobrança. Foram 2.91€ pelo selo e 1€ pela Credencial. O meu agradecimento à Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago por um desempenho exemplar.

Já tinha lido que seria necessário, ao longo do Caminho, pedir uma nova credencial, pois os locais para os carimbos de uma única credencial não eram suficientes. Não sei se as credenciais anteriores tinham menos espaço para os carimbos, ou se estavam a referir um outro caminho que não o Francês, pois a Credencial que recebi tem espaço que sobre para todos os carimbos.

Equipamento I

Ainda não fiz a lista total de todo o equipamento a levar, mas já comecei, aos poucos, a comprar algumas coisas que não tinha. Estão aqui algumas delas:

Botas de Caminhada
Marca: Merrel Chameleon
Preço: 149.90€
Local: Doctor Livingstone
Algumas Caracteristicas:
GORE-TEX®
Sola Vibram® Chameleon Hiker™
Air Cushion® Midsole

Aconselhadas para "trail hiking" com uma mochila não superior a 9Kg. Mesmo o que andava à procura. Li bastante sobre botas antes de as comprar. Sabia que tinham que satisfazer certos requisitos:

- Teriam que ser botas de modo a proteger o tornozelo de eventuais deslizes no terreno;
- Teriam que ser de Gore-Tex de modo a serem impermeáveis;
- Teria que andar bastante com elas, antes de iniciar o Caminho, de modo a amolecê-las;
- Haveria grande probabilidade de não serem nada baratas!

Para este último, mentalizei-me logo à partida que a compra das botas iria fazer mossa na carteira. Decidi-me então a comprá-las o quanto antes, ainda ingénuo, de que seria fácil comprar botas destas ao virar da esquina, mesmo estando em Lisboa. Ui! Não vos conto as lojas que eu corri à procura de botas de caminhada, e a banha de cobra que vendedores sem escrúpulos querem impingir. Se eu não estivesse preparado para o que queria comprar, teria ficado muito, mas mesmo muito desiludido.

Finalmente encontrei numa pequena loja no Colombo, no último piso, no canto escondido já depois dos cinemas, uma prateleira inteira de botas de caminhada. Podia escolher a cor e tudo, e até tinham todos números e meios números disponíveis. Comprei-as logo.

De início as botas, como todas as outras, estavam bastante rijas. Tinha lido em algum sitio que teria que andar pelo menos 200km para as amaciar. Que exagero! Não foi preciso tanto. Ao fim do primeiro mês de leves caminhadas, as botas já estavam completamente adaptadas a mim.

Andei com elas, corri, levava-as às vezes para o trabalho, andava de bicicleta, e lá tiveram que ceder. Mas de início... ai! Lembro-me de um dia que as calcei, dei quatro passos, e sairam logo a voar dos pés, pois não podia com a dor. Amaciá-las é pois um GRANDE conselho. Não as comprem em cima da hora de partir... nem as poupem até lá.


Mochila
Marca: Lafuma Nanga 40
Preço: 85€
Local: Sport Zone

Capacidade: 40 litros
Peso: 1.70 Kg
Material: Polyester

Foi paixão à primeira vista. O sistema "Ventilight" faz com que a mochila não entre em contacto directo com as costas. É super confortável, e com um peso de 1.7Kg faz dela a mochila ideal para a caminhada. No entanto, ainda não fiz o teste da capacidade. O problema com as mochilas de 50L para cima, de todas as que vi, eram as barras de metal nas costas, o que penso que não seriam muito confortáveis em tantos dias de caminhada, e não contribuindo muito favoravelmente para o peso da mochila. Mas, nem que fique horas em frente à mochila, e tenha ainda que investir em mais material, os 40 litros terão que dar para tudo.

O objectivo final é de que a mochila carregada não passe os 8Kg, que é 1/10 do meu peso.


Saco Cama
Marca: Quechua S15 Ultralight
Preço:
39.90€

Local:
Decathlon

Características:
Volume: 2,5 litros
Peso: 650gr
T°conforto 15°C
T°limite conforto 11°C
Tecido interior e exterior de poliamida Ripstop® resistente de secagem rápida

Já tinha um saco cama, mas o tamanho dele comparado com este, é como se levasse o colchão da cama para o Caminho. É incrível o tamanho compacto destes novos sacos. Vi-o na loja desdobrado, e parece tão ou mais farfalhudo do que o que já tinha. Mas o material é extremamente compressível.

Li muitas opiniões sobre os sacos cama a levar, e a maioria era da opinião de sacos com a temperatura limite nos graus negativos. O vendedor da loja avisou-me que este já era muito quente para o verão. Como vou em Setembro e não tenciono dormir na rua, penso que serve perfeitamente. Cheguei a ver o saco cama com as características aconselhadas, mas o preço era de 75€! Espero não me vir a arrepender.


Sandálias
Marca: Nike All-Trac Amphibious
Preço:
39.95€

Local:
Seaside

Tal como as botas, também não fui forreta com as sandálias. Queria umas totalmente funcionais, que não só dessem para as levar ao banho, mas também que pudesse caminhar confortávelmente com elas. Paguei caro, mas o conforto é notável!


Chapéu
Marca:
Columbia
Preço:
16€
Local:
Sport Zone
Decididamente este tipo de chapéus não me fica nada bem. No entanto, tem mesmo que ser, pelos conselhos que li. Se o calor e o sol em Setembro estiver a apertar, é um elemento indispensável.


Relógio
Marca: Geonaute Synkron 500 A
Preço: 29.90€
Local: Decathlon
Ok... o que é que isto está aqui a fazer? Simples, eu não uso relógio. O meu relógio é o meu telemóvel, e como não tenciono andar sempre com ele por perto no Caminho, de facto, ainda nem decidi se o vou levar ou não, então, lá tive que comprar um relógio. Este é muito porreiro. Está na categoria de relógios de desporto, e de facto não incomoda nada, nem a andar de bicicleta, onde o uso sempre.


Ora bem, deixa lá somar tudo o que já gastei até agora, para me assustar. Nunca fiz as contas...

Botas...... 149.90€
Mochila.... 85.00€
Saco-cama.. 39.90€
Sandália... 39.95€
Chapéu..... 16.00€
Relógio.... 29.90€

TOTAL...... 360.65€

Bolas! Não há-de o meu saldo bancário andar sempre perto do zero! Epá... devo ter abusado em algumas coisa. Mas acho que já não me falta comprar mais nada de "grande". E mesmo assim, ainda falta naquelas contas umas calças de caminhada de 30€, mas isso uso-as no dia-a-dia, e não meto nas contas. Ainda bem que trabalho num sítio onde posso ir "casual" todos os dias! Ou como o meu chefe diz, com "street-wear".

Destino do Blog

Na realidade não sei bem qual o destino que irei dar ao blog. Para o leitor que se está a preparar para o caminho na sua busca por informação que chegou aqui através do Google, pretendo colocar informações sobre a preparação para o caminho. Mas também, e o mais certo, é por vezes deambular por outros assuntos. O tempo o dirá.

Início

Começa aqui. Por vezes ainda penso que começa tarde, mas logo de seguida levo com a chapada a ideias pré-concebidas e o abanão que me leva a pensar na coincidência que me levou a começar, e vem de imediato a ideia de que as coincidências têm muito pouco de acaso nelas, fazendo-me logo pensar que não. Começa onde e quando teria que começar. Agora e aqui. Nem um segundo tarde demais.

Decidi-me por fazer um caminho que julgava de início ser apenas no espaço. Percorrendo na realidade muitos quilómetros. Mas cedo me apercebi que o caminho é feito tanto pelo corpo como pela alma, e que esta já se tinha lançado em frente, mesmo antes de eu me aperceber.

Em mim, as grandes mudanças são feitas pelas pequenas coisas. Quando planeio essa mudança, através de cumprir os objectivos dessas pequenas coisas, ponho em acção, sem dar conta, um ritual de iniciação. Não um ritual feito por outros, que temos que cumprir para atingir um novo patamar na nossa vida inserida na sociedade, mas um ritual feito e escolhido por mim, para atingir as metas a que me proponho. E a sensação é... libertadora, no mínimo. Ilumina cada dia que passa. É algo nosso, que ninguém nos pode tirar.

Começa então aqui o meu blog sobre o meu percurso pelo Caminho de Santiago. Uma rota medieval que me vai levar desde a fronteira de França até Santiago de Compostela, ao longo de 30 dias no tempo, 800 quilómetros no espaço, e muito mais em mim.