sábado, 21 de julho de 2007

Porquê fazer o Caminho?


Curioso, mas é extremamente raro surgir esta pergunta quando dizemos a alguém que o iremos fazer. A maioria das pessoas assume imediatamente que é por algum motivo religioso, e com algo muito de pessoal por trás. Talvez consequência de termos Fátima no nosso país, e estarmos habituados a promessas de fé. No entanto, os que me conhecem melhor, ao fim de alguns segundos atinge-os e dizem-me "espera lá, mas tu não és religioso... pois não?". Ao que eu respondo... "Não".

Então, porquê fazer o Caminho? Existem um leque de motivos que levam as mais variadas pessoas a fazer o Caminho. Muitas delas devido à religião, sim. Outros devido à mística do Caminho. Alguns apenas pelo desporto, por razões artísticas, por motivos culturais, por passeio, pela beleza do Caminho, pela aventura, por algo único na vida.

Cada um tem o seu motivo, e por vezes, esse motivo só lhe é revelado durante o Caminho, ou até mesmo no final dele. Parece que existe uma componente comum a quem percorre o Caminho, que é o de não saberem bem o verdadeiro motivo porque o querem fazer, sabendo apenas que o querem fazer... e muito!

Vejamos, o Caminho não é como uma ida à praia, ou ir acampar de fim-de-semana. Não. É algo que requer preparação, dinheiro e bastante disponibilidade. Na grande maioria das vezes, para termos essas três coisas, terá que se fazer alguns sacrifícios. Eu fiz alguns sacrifícios, e até mesmo riscos, e estou disposto a fazer ainda mais. Para quê fazer isso? A resposta, igual para a pergunta inicial, é simples. Porque quero! Porque se não o fizer, sentirei um vazio e uma pobreza de espírito enorme. Como algo incompleto na minha vida, que deveria ter feito. A única coisa que está entre mim e o Caminho é o tempo. Irei fazê-lo porque quero. Porque preciso.

E com a resposta, levanta-se uma série de outras questões. Talvez haja sempre questões por baixo de questões, em camadas intermináveis. É claro que o verdadeiro motivo é conhecido, e quem aprende a questionar-se, sabe-o muito bem. O meu verdadeiro motivo é a ruptura. É querer colocar um marco nesse momento da vida que indique uma viragem para algo diferente, em que iremos fazer por tudo para que seja melhor. É querer controlar todas as forças exteriores, não conseguindo na realidade, mas descobrindo que nos podemos moldar segundo elas. É querer que a mudança seja uma coisa boa. De início, é como investir num espécie de seguro, em que depois transforma-se na solução, e sabe-se lá onde vai acabar.

Porquê fazer o Caminho a só? Irei sem ninguém. Mas sozinho? Duvido muito. É praticamente impossível estar sozinho no Caminho. Com tantas pessoas a fazer o Caminho, pelos mais variados motivos, mas com o objectivo em comum de chegar a Santiago de Compostela, nunca se está verdadeiramente a só no Caminho. Mas partirei só, porque quero ir apenas eu, quero deixar tudo o que me amarra no dia a dia, para trás.

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