Saí de manhã, um pouco antes das 7:00, depois de acordar às 6:00. Tomei o pequeno-almoço no albergue, que apesar de tudo, por 2.5€, foi um dos melhores que tomei nos albergues do Camino. Café, torradas queimadas com manteiga e doce de morango e duas bolachas.
O primeiro objectivo seria alcançar Ponferrada e assim recuperar a distância não percorrida do dia anterior. Como imaginei, Ponferrada é mais uma grande cidade, cujo tempo para a atravessar é imenso. Tentei entrar no castelo de Ponferrada, que me pareceu curioso, e também o único local que encontrei realmente interessante, mas este estava fechado, abrindo apenas às 11:00. Segui em frente. O caminho, como sempre, passa pelo meio da cidade. Não fiquei com pena de não ter ficado por lá.
Quase colado a Ponferrada, segue-se Columbrianos, onde parei para um café solo. De seguida, Fuentes Nuevas, onde parei para comer qualquer coisa. Reencontrei a Julia. Caminhámos juntos a um passo mais lento. O percurso depois de Ponferrada estava a ser bastante agradável, sempre de pueblo em pueblo, com muito verde a rodear as povoações, quase nem dando pela distância. Julia iria ficar em Cacabelos. Disse-me que a Marie e a Angela não gostavam de caminhar muitos quilómetros por dia. O Fernando, o espanhol das Canárias e o seu companheiro de viagem também me disseram que não iriam aguentar até Villafranca del Bierzo, pois tinham começado o Caminho em Astorga e ainda estavam nos seus primeiros dias, sem resistência e com as dores cuja descrição já conhecia bem demais.
Falei bastante com a Julia. Sobre imensos assuntos, como era hábito sempre que a reencontrava, e recordo-me perfeitamente que um deles foi sobre o meu Camino, de terminar em Finisterra, e sobre quais os motivos pelos quais queria que fosse Finisterra o destino. Na altura nem deu para desconfiar. Soube-o dias depois, em Portomarín, pela Marie, que devido àquela conversa que tive com a Julia, tinha decidido ir também para Finisterra, mas dentro dos mesmos dias que tinham planeado para o Camino até Santiago de Compostela. Deixara a Marie e a Angela para trás. Mas nesse dia iria ainda ficar em Cacabelos.
A caminho de Cacabelos. "Santiago de Compostela 195". Os quilómetros diminuem inevitavelmente de dia para dia.
Pelo que escrevi no meu diário, aconteceram bastantes coisas neste dia que escolho não partilhar aqui. Tenho omitido uma certa realidade do caminho e bastantes pormenores mais pessoais neste blog, mas sempre tentando não transformar o blog num texto parecido com o encontrado num qualquer guia sobre o Camino. O blog descreve o meu Camino, com bastantes factos pessoais. Mas decerto compreenderão que não poderei colocar aqui... tudo. Como se isso fosse possível.
Quando alcancei a saída de Cacabelos, sentei-me num jardim para fumar um cigarro. O meu guia mostrava mais 7km. Na realidade seriam 9km, a puxar para os 10km. Raio do guia. Os erros nele eram cada vez mais frequentes. Nesta etapa, nem sequer mostrava o pueblo que existia entre Pieros e Villafranca. A zona do Bierzo é muito bela. Já tinha visto posters turísticos pendurados em paredes a promover o Bierzo. Estava curioso com Villafranca del Bierzo. Estava um dia quente de sol. A subida depois da saída de Cacabelos foi terrível! Entrei numa zona de videiras. Imensas videiras até onde a vista alcançava. Famílias inteiras encontravam-se debaixo do sol a vindimar. Aos peregrinos que pediam uma ou outra uva para ir comendo ao longo do caminho, eram oferecidos de bom grado uma mão cheia de cachos carregados de uvas grandes e de aspecto apetitoso.
Cheguei a Villafranca del Bierzo. Entrei pela parte de cima da vila. O albergue municipal fica mesmo no topo. Um parte da vila fica numa imensa e íngreme encosta. Ao lado do albergue encontra-se a igreja de Santiago, famosa pelo seu Portal del Perdón. A porta dá o perdão de todos os pecados aos peregrinos que o atravessarem. Outrora, os peregrinos com mais dificuldade, podiam então voltar para trás, para as suas casas, não tendo que continuar até Santiago de Compostela. A igreja encontrava-se fechada. Bolas! Tinha mesmo que continuar até Santiago hehe
Junto à igreja de Santiago e ao albergue municipal, encontra-se um outro albergue, o Ave Fénix, que pertence e é mantido pela família Jato. Os seus ancestrais, Jesus Jato e Maria Carmen, foram das figuras mais emblemáticas do Camino. Quando construíram o albergue, os habitantes de Villafranca, pensando que Jato era um bruxo, incendiaram o albergue. Mas Jato não recuou e reconstruiu tudo de novo, passando a chamar ao albergue "Ave Fénix", a ave que renasce das suas próprias cinzas. Na altura não sabia nada do albergue nem sobre a sua existência, e fiquei no municipal, novo e com boas condições. Caso soubesse, teria ficado no Ave Fénix. O dono actual do albergue, da família de Jato, tem por tradição fazer um jantar comunitário, com todos os peregrinos. Por vezes, faz a queimada, bebida tradicional da Galiza, onde iria entrar no dia seguinte.
Sentei-me numa das esplanadas da Praça Central, repleta de peregrinos. Foi quando vi pela primeira vez a Ema, uma espanhola de Palência. O nome pronunciava-se "Rema", por isso não sei bem se "Ema" será o nome correcto dela. Como Ema dizia "ès Yema sin clara". Portanto, também há a hipótese de se chamar Yema ou Gema... hmmm. Iria me encontrar bastantes vezes com Ema durante o Camino até Santiago.
Encontrei o Italiano no supermercado. Falei um pouco com uma sul-coreana numa das outras igrejas de Villafranca. No albergue reencontrei os brasileiros e falei melhor com o alemão dono da Bierke. Ia também até Finisterra e não sabia como voltar para a Alemanha, pois estava quase sem dinheiro. Estava com esperança de voltar a pedir boleia a algum alemão com auto-caravana.
Deitei-me às 22:00. No dia seguinte iria ter a famosa e temível subida de O Cebreiro.
2 comentários:
Já estava com saudades...
Bj
fotos lindissimas!! Fez-me lembrar a minha passagem de ano em Alvados...
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