domingo, 29 de julho de 2007

Rio Lizandro

Ontem fiz a minha primeira caminhada com a Papa-Léguas:
http://www.papa-leguas.com

Aproveitei e meti a teste vários factores para o Caminho.

O percurso em si, não é dos mais difíceis:

Duração................. 5 horas
Nível de Dificuldade.... Fácil
Distância............... 11Km

Altitude Máxima......... 68m
Desníveis acumulados.... 130m

Numero de subidas....... 1

Tipo de Terreno......... Terra batida e alcatrão


Tracei no Google Earth o percurso efectuado:











Parece muito pouco quando comparado com as etapas do Camino. Mas, num verão com pouco calor, ontem o tempo decidiu aquecer, e a certa altura quase que me fez desejar um pouco de chuva em vez de tanto calor. Felizmente na maioria dos locais sentia-se uma brisa leve. Afinal de contas, é a zona da Ericeira, terra do vento! Mas mesmo assim, torrei.

O percurso é variado, muito verde, por campos totalmente cultivados, com uma paisagem em que se vê muito pouca estrada, atravessando apenas dois curtos troços de alcatrão, e terminando na zona ao pé da praia.

Inicialmente, seguimos o percurso do rio, sempre com vegetação alta a acompanhar-nos, por vezes, passando por túneis de canas e arbustos que quase escondem o caminho.


Num ponto, temos que atravessar o rio, que nesta altura tem um caudal bem baixo, o que nos obriga a testar a verdadeira impermeabilidade das botas. Ò para a Ana do nosso grupo a ver se as delas aguentam :)


O percurso faz-se por campos totalmente cultivados, em que por vezes temos que ter cuidado para não tropeçarmos em nenhuma abóbora! Durante toda esta fase do percurso, apenas encontrámos três agricultores e uma pessoa a fazer o percurso de BTT.
















































































A junção da zona agrícola tipicamente saloia com a zona de praia faz-se por um curto troço de estrada em que teremos que atravessar uma ponte e passar por umas casas da população local, em que se viam nas casas as portas da sala completamente abertas, deixando entrar por toda a casa um relaxante cheiro a eucalipto. Que inveja!


A chegada à foz do Lizandro (ou Lisandro), que descreve um "S".


Das imensas vezes que já estive na praia do Lizandro, sempre olhei para o outro lado, para as escarpas, e sempre desejei dar por ali uma caminhada, pois deveria ser espectacular. E é!


O troço que liga a praia da Foz do Lizandro à praia de São Julião é todo em rocha, à beira mar.


Quase a chegar ao destino. O Miguel, o nosso guia, sempre ávido por contar histórias que já lhe sucederam e as histórias e lendas locais ao longo do percurso. Aqui, a contar a lenda de S. Julião.


Ainda não digeri bem os resultados do teste. Fui completamente equipado para a caminhada como se fosse para o Caminho. Fiz a mochila, pesei-a, levei a roupa do caminho, chapéu, tudo.

As coisas começaram a correr para o torto na noite anterior, quando fiz a mochila pela primeira vez. Tal como suspeitava, 40 litros é muito pouco! As sandálias tiveram que ficar de fora, levando umas havaianas em vez delas. Isso deixou-me muito triste. Mais ainda, quando ao conversar com o Miguel, o guia da caminhada, ele me disse que se encontrasse percursos de alcatrão no Caminho, para usar esse tipo de sandálias e nunca as botas. Bem... mas ainda há muitos melhoramentos a fazer na mochila. E alguns erros cometidos também, como levar o saco de cama super-leve na parte de baixo e não em cima.

Outro problema que tive foi o da garrafa de água. Ok... coube tudo na mochila, mas e os snacks e uma garrafa de água de litro e meio? Tive que tirar algumas coisas para caber a garrafa. Acho que vou ter mesmo que comprar um cantil. Até porque é bastante chato estar sempre a tirar e abrir a mochila sempre que se quer beber água.

Durante a caminhada, com o sol e calor que estavam, usar o chapéu protege realmente, mas antes de ir para o Caminho, acho que vou à máquina com pente 2, ou perto... É um calor!! Definitivamente vou com o cabelo muito curtinho.

A mochila com o sistema "ventilight" que não deixa encostar às costas, é realmente um grande ponto positivo. A única coisa que se sente na mochila é mesmo o seu peso, e apenas a longo prazo, como no dia seguinte, como agora! Dói-me os ombros, pernas e ombros. Ah e também me dói os ombros. De resto, não tenho absolutamente queixa nenhuma da mochila. Não posso levar a mochila mais pesada. Depois digo o peso final da mochila, mas não está acima dos 7Kg. Já disse que me doíam os ombros?

As botas comportaram-se lindamente. Usei apenas as meias de caminhada da Decathlon. Perguntei ao guia sobre o conselho das meias finas e meias grossas por cima, e ele disse-me que para além de ser quente demais, seria apenas aconselhado para meias "normais". Para meias de caminhada, ao escolher umas com o indicador de calor o menor possível e eliminação de humidade o maior possível, não se teria muitos problemas, desde que o pé se adapte à bota e não ande por lá a boiar. Hoje olhei para os meus pés, e não sei se é para ficar um pouco preocupado. A bota direita sempre custou mais a adaptar desde o início, e a única lesão é mesmo uma feridazita no tornozelo direito, da parte de dentro, devido à fricção. É uma coisa minúscula, mas numa caminhada prologada de 30 dias...

O Miguel usava um bastão telescópico. É bastante prático, pois quando não se pretende usá-lo, pendura-se na mochila e ficamos com as mãos livres. Mas ainda não desisti de ir com um de madeira!

A caminhada foi uma experiência positiva em todos os aspectos, e espero fazer muitas mais. Éramos um grupo pequeno, de seis pessoas, por isso tivemos oportunidade de conviver mais pessoalmente uns com os outros, e no final ainda ficámos um pouco a conversar e a beber umas jecas na esplanada do "Gota d'Alcool" na praia de S. Julião. Foi muito bom conhecer pessoas diferentes com diferentes experiências e que partilham o mesmo gosto por caminhadas, viagens e até fotografia. Deram-me tantas dicas para futuras viagens... :)

No final, para estragar a queima das calorias, ainda dei uma volta pela Ericeira, com paragem obrigatória no Galiota para uma tosta de galinha com alho. Para quem conhece o Galiota, não se assuste, foi MEIA tosta :)

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Equipamento II

Mais umas aquisições de equipamento. Finalmente estou quase a chegar à parte do vestuário! Quase...

Capa para a Chuva
Marca: Quechua Forclaz 1300
Preço: 17.95€
Local: Decathlon


Características:
Peso: 330 g
Material: 100% polyester revestido
Fecho de correr todo o comprimento, fecho duplo, punhos com fecho de banda auto-aderente. Concebido para proteger da chuva o praticante de caminhada e a sua mochila.

Não sei porquê, mas até há pouco tempo atrás, pensava que não iria apanhar chuva nenhuma no Caminho. Até que pensei realmente um pouco sobre o assunto. Vocês já viram o verão que estamos a ter?! Se chove em Julho, porque não irá chover em Setembro? Em Inglaterra andam com cheias e na Hungria morrem 500 pessoas numa semana devido ao calor. Parece que o planeta já iniciou as fases de teste para a expulsão definitiva dos parasitas que nós somos. Vai ser mesmo impossível de prever o tempo para Setembro. Mais vale ir protegido.

Podia ter comprado um poncho, muito mais barato, pois ficava por volta de 5€. No entanto, depois de o ter experimentado, vi que se o factor vento entrasse em cena, a coisa podia ficar muito complicada. Para além de que para uma chuvada média, entrava água por todos os lados, pois o poncho prende de lado apenas com dois botões, e as mangas são bem curtas. Enfim... é um poncho!

Esta capa pareceu-me mais robusta. E nem é muito pesada... espero. Não sei porquê, vem-me sempre à cabeça o "grão a grão...".


Meias
Marca: Quechua Forclaz 100
Preço: 3 x 6.90€
Local: Decathlon


Ah pois é! As meias. Em tudo o que li, aconselham sempre a levar três pares de meias grossas e três pares de meias finas, todas sem costuras, e calçar as meias finas por baixo das meias grossas. Mas já li relatos de quem leve apenas as grossas. Ainda não me decidi. Pelo sim, pelo não, comprei três pares de meias grossas próprias para caminhada. Nem sabia que havia disto! Como o Markl diz, em que concordo totalmente, as meias e boxers crescem por geração espontânea na gaveta delas!

Mas pensado um pouco, se investimos tanto nas botas, porque iríamos estragar tudo nas meias? Estas são todas xpto, com secções de diferente elasticidade e grossura. Segundo a Decathlon:

Concebido para grandes caminhadas, de um a vários dias, em todo o terreno, com desnível acentuado.

5/5 Eliminação de humidade
5/5 Rapidez de secagem
2/5 Calor
4/5 Resistência

Amanhã faço o test-drive :)


USB Pen Drive
Marca: Silicon Power Ultima II 2GB
Preço: 14.90€
Local: Vobis


Penso que com isto resolvo o problema de armazenamento de fotos. Eu sou uma besta a tirar fotos. Se num passeio por uma zona onde já passei imensas vezes, tiro 100 fotos, imagino como será no Caminho. Ainda pensei em enviar as fotos por e-mail ou FTP quando atingisse o limite do cartão de 512MB. Mas só de pensar nas velocidades de upload, desisti logo da ideia. Então... uma Pen Drive! É super-leve, minúscula, e com uma capacidade de 2GB mais os 512MB do cartão da máquina, acho que deve dar. Terá que dar!

Não comprei um cartao xD de capacidade igual porque acho que a minha só lê cartões até 1GB, e mesmo assim, acho que têm que ser cartões Olympus. E o preço de um xD de 2GB... ui! Mas poupava-me as idas aos PC's.

Quanto à questão das pilhas para a máquina, de modo a não ir carregado com o carregador, irei comprando pelo caminho pilhas normais, não recarregáveis.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Guia do Camino

Chegou finalmente o meu guia do Caminho!

"El Camino de Santiago: Guía práctica del peregrino"

Arranjar isto foi uma verdadeira aventura. Depois de ler alguns artigos sobre os melhores guias para o Caminho, consegui reduzir a escolha a dois livros:

- "El Camino de Santiago a pie", El País Aguilar
- "El Camino de Santiago: Guía práctica del peregrino", Everest S.A.

Concentrei-me então na busca do primeiro, El Camino de Santiago a pie. Corri várias livrarias em Lisboa e arredores. Não o encontrei em lado nenhum! Encontrei bastantes livros sobre Santiago de Compostela, e até mesmo livros sobre o Caminho, mas nenhum deles era um guia. Deixei passar um tempo, e na semana passada voltei à carga. Desta vez, se não encontrasse um guia, iria encomendá-lo. Fui apenas a três livrarias.

A primeira foi a FNAC, onde me disseram que iria demorar entre um mês a mês e meio... sem garantias. Não dava. A segunda foi a Bertrand. Disseram-me que não mandavam vir livros de fora, e o único que tinham era da Everest, mas como estava esgotado na "fonte", não o podiam pedir. Estes não queriam mesmo vender. Fui à terceira e última, livraria Bulhosa, os quais, muito simpáticos ficaram com o meu contacto para pedir um "orçamento", mas avisando-me logo que provavelmente iria demorar entre um a dois meses. Até me disseram "parece que os livros de Espanha vêm a pé". Depois repararam no título do livro que encomendava e ficou no ar um "errr..." :) Mas, ao fim de dois dias ligaram-me e disseram-me que iria demorar dois meses! Dois meses!

Foi então que desisti, fui à loja online da Everest Espanhola, encomendei-o na quinta-feira passada, na segunda-feira foi expedido, e hoje, quarta-feira, chegou por UPS Express. Quatro dias úteis! A diferença paga-se nos 11.90€ de portes. Mas ainda me ofereceram um "regalo" à escolha. O guia em si custa 24.95€.

Já me tinham avisado que, embora fosse um excelente guia, tinha um pequeno problema, o peso. Fora essa a razão pela qual incidi as minhas buscas no outro guia. Realmente é um pouco pesado para quem anda a construir a mochila grama a grama, e a ler que alguns até serram a escova de dentes a meio para poupar no peso do cabo! Mas tem um extra valioso. O guia chega empacotado numa caixa de plástico, em que para além do guia em si, trás à parte um saco de plástico transparente, com fecho de velcro e um fio elástico para pendurar ao pescoço, com os mapas de todas as etapas do percurso, em que na parte de trás contém toda a informação condensada. Pesa 180 gramas. Muito prático! Ainda vou decidir se apenas levo os mapas com o resumo, ou também o guia.

sábado, 21 de julho de 2007

O Caminho Francês

Existem vários Caminhos de Santiago. Formados por peregrinos desde o século IX, actualmente existem os principais Caminhos históricos:

- Caminho Francês
- Caminho Aragonês
- Caminho do Norte
- Caminho Inglês
- Caminho Primitivo
- Caminho Português
- Vía de la Plata
- Rota Marítimo fluvial (Caminho da Ria de Arousa)

Catalogar os vários Caminhos é apenas uma forma de identificar os principais itinerários. O Caminho começa à porta de casa.

Não se traçou todos os percursos feitos ao longo de 12 séculos, pelos milhões de peregrinos que já caminharam até Santiago. As rotas de maior afluência começaram a ficar no mapa. Algumas mais marcadas que outras. E aquelas que ao longo do percurso se vão encontrando com outras e juntando um maior número de rotas ficaram marcadas não só no mapa, mas também na cultura Europeia. É o caso do Caminho Francês.

Apercebi-me de que um Caminho não era algo tão linear ao ver o mapa dos vários Caminhos Portugueses.

Contudo, nos últimos anos, várias entidades e associações começaram a delinear apenas um. O "Caminho Português". Coisa que já foi feita em todos os restantes Caminhos.






No entanto, também não deixa de ser surpreendente ver os Caminhos traçados no mapa da Credencial do Peregrino.


Se tivermos em conta que existem variações de percurso em cada Caminho, as possibilidades de rota são imensas.

Para percorrer um Caminho, não se tem que necessáriamente iniciá-lo desde o seu início. E qual o início do Caminho Francês? O Codex Calixtinus, escrito no século XII, descreve as quatro principais rotas em França:

- Via Turonense, partindo de Paris;
- Via Lemovicense, partindo de Vezelay;
- Via Podense, partindo de Le Puy, unindo-se em Roncesvalles com as primeiras;
- Via Tolosana, que cruza os Pirinéus por Somport, seguindo por Jaca, e une-se em Puente la Reina a todas as outras que vêm de Roncesvalles.

O Caminho que parte de Puente la Reina até Santiago de Compostela é então o chamada Caminho Francês. São 750 km que atravessam Aragão, Navarra, Rioja, Castela e a Galiza.

No entanto, hoje em dia, diz-se que se faz o Caminho Francês, quando se parte de algum local que intercepte a rota de todos os caminhos referidos. Portanto, eu, que irei partir de Saint Jean Pied-de-Port, no lado Francês dos Pirinéus, irei percorrer efectivamente o Caminho Francês.

O Caminho Francês foi declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu em 1987, e Património da Humanidade em Espanha (1993) e em França (1998). O caminho tem uma mística enorme. Foram vários os que já o percorreram e deixaram o seu nome na história. Pessoas como Carlos Magno, El Cid, São Francisco de Assis, Fernão de Aragão e Isabel de Castela.

No entanto, falta referir um outro Caminho, que a cada dia que passa, torna-se mais evidente que o irei percorrer depois de chegar a Santiago. Um Caminho que me irá levar até ao "fin de la Tierra" de acordo com os mapas dos nossos antepassados medievais. Mas disso, irei falar numa outra altura.